domingo, 21 de outubro de 2012

Silêncio


Parei de desenhar um pouco pra vir escrever este texto. Está o maior silêncio aqui no meu escritório. Só o barulhinho do ar condicionado... Esse é o clima perfeito para se ter uma boa idéia. Dá pra ouvir direitinho tudo o que está acontecendo dentro da cabeça da gente. É importante esse momento, escutar todos os pensamentos e também aquele eco baixinho que uma idéia faz lá dentro, quando toca em outras idéias que já estavam cobertas de poeira... fazendo tudo vibrar em conjunto.

Quando eu consigo ficar uma horinha assim, em silencio, rabiscando algumas folhas de papel, é mágico! Tenho muitas idéias para personagens interessantes que dá pra incluir em velhas histórias, ou até crio histórias completamente novas, do nada... São muitas idéias, a maioria delas acaba sendo deixada meio que dentro de uma gaveta mental, ou se juntando a outras idéias que irão se tornar uma nova idéia mais completa no futuro - Nada se perde, é claro! O importante é deixar fluir essas informações. Deixa rolar, só vai acompanhando e registrando tudo em algum lugar. Tem gente que corre pra anotar tudo em um papel, outros falam e gravam o audio pra ouvirem depois. Eu prefiro só guardar na memória mesmo, enquanto vou rabiscando alguns desenhos do que seriam os personagens principais - faço algumas anotações quanto ao caráter deles do lado... anoto mais ou menos um enredo da aventura na mesma folha, conforme vão saindo os desenhos... testo algumas expressões faciais... é muito bom, muito zen!

Na história do kayder teremos um personagem que não é humano, mas que está aprendendo a emular os sentimentos humanos conforme a aventura vai se desenrolando. Sinistro desenhar uma coisa assim. No começo, seu rosto deve ser estático, sem a menor expressão facial - e isso é uma coisa meio que contraditória até de se existir em uma história em quadrinhos - sobretudo no estilo que eu gosto de desenhar, o mangá! Digo isso porque em muitas ocasiões o personagem precisa falar sem dizer nada. No silêncio total!

Na primeira parte da história, kayder vai estar no espaço. No vácuo gelado do espaço sideral. Nem onomatopéias existem alí! Muitos autores abrem mão dessa característica do espaço, por exemplo em cenas de guerras entre naves, onde sons de vários volumes, tipos, e até cores diferentes são ouvidos - tudo pra dar mais dramaticidade á sequência. mas imagine só o oposto... Imagine uma cena bem relista, com uma pessoa se movendo na lua... Sem o som, você teria que passar o peso daquela ação nos movimentos dos personagens, na falta de gravidade, nas expressões faciais... opa, o Kayder não pode ser expressivo, então, mais uma dificuldade pintando aí!

Tudo bem quieto.
Só o som do ar-condicionado.
Silêncio.
Tentando ouvir o eco que as ideias fazem ao se esbarrarem.
De repente, um passo sobre a superfície de um planeta destruído.
Um robõ pega um objeto no chão.
É um broche com uma foto de uma família feliz.
O robô aperta um pequeno botão no broche.
Um holograma começa a ser transmitido. É uma espécie de vídeo mostrando pai, mãe e filha brincando, alegremente.
o vídeo termina. O robô guarda o broche em seu cinto e vai embora.
Tristeza!

Mas isso é uma história pra crianças, por que tão triste assim?
Talvez porque não haja nenhuma beleza, alegria ou glória em uma situação dessas.
Kyder está triste, muito triste... mas não pode demonstrar isso, afinal, está apenas aprendendo a emular seus sentimentos.

...e segue andando, pisando sobre o solo do planeta destruído no silêncio do vácuo espacial.
e eu volto pra prancheta, pra desenhar mais um pouco.

Um comentário:

  1. Bem isso mesmo de ter ideias no silêncio. Eu geralmente escrevo/desenho/crio de madrugada, quando só tem o som do relógio na parede da sala. As pessoas não-criativas não entendem o valor disso, fazer o que?

    E não esquenta da história infantil ter um tom dramático, tem muitas crianças que não são exatamente alegrinhas que podem se identificar! Me lembro que quando aprendi a ler, uma das minhas leituras favoritas eram as aventuras da Ravena! Eu me identificava horrores com o drama dela contra o pai monstro... mas depois fiquei desejando ser alegre e ensolarada feito a Estelar... enfim, personagens variados ajudam a criançada a entender a vida e o mundo que as cerca!

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